Arte com a Bola nos Pés
03/03/2020 às 11:06 / Fonte Fotos: Divulgação / Por Renato Félix
Recordista
de jogos pelo Flamengo, o paraibano Junior é um dos maiores ídolos da história
do clube carioca
•
Recente pesquisa da Datafolha mostra que o Flamengo ainda é
o time de futebol mais popular do país. É, inclusive, o mais popular não só no
Rio, mas em alguns estados, sendo mais popular que as equipes locais. A Paraíba
é um desses estados. E é paraibano um dos maiores ídolos da história do
Flamengo: o pessoense Leovegildo Lins da Gama Junior – ou, simplesmente,
Junior. Ele é um recordista: o jogador que mais partidas disputou pelo clube,
875 jogos.
Junior, hoje comentarista de futebol da Rede Globo, é da
geração mais vitoriosa da Flamengo: aquela liderada por Zico, campeão
continental e mundial em 1981, fora os títulos brasileiros e estaduais nos anos
1970 e começo dos 1980. Ele estreou no time principal como lateral direito em
1974, sendo já campeão carioca naquele ano. Dois anos depois, o jogador
ambidestro se tornou lateral esquerdo, posição em que se consagrou na equipe.
Junior acabou se tornando um dos líderes daquela equipe que
ainda tinha nomes que o torcedor do Flamengo guarda com carinho até hoje: Raul,
Leandro, Marinho, Mozer, Rondinelli, Andrade, Adílio, Tita, Nunes, Lico. Nessa
primeira fase, foi campeão carioca em 1974, 1978, 1979 duas vezes (houve dois
campeonatos aquele ano) em 1981; campeão brasileiro em 1980, 1982 e 1983;
campeão da Libertadores da América e do Mundial Interclubes em 1981.
Também foi um dos grandes nomes de uma das mais queridas
seleções brasileiras da história: a da Copa de 1982, tragicamente eliminada
pela Itália naquela competição. Também foi titular na seleção da Copa de 1986,
que foi eliminada pela França. Na Copa de 1982, no entanto, mostrou seu talento
além do campo: compôs e gravou um samba que se tornou um hino oficial da
seleção no torneiro: “Povo feliz”, que ficou conhecida mesmo como “Voa,
canarinho”.
O compacto vendeu 800 mil cópias. E ele já havia gravado um
LP e sua relação com a escola de samba Mangueira é íntima: ele desfila todo ano
como baterista da escola.
Junior ficou no Flamengo até 1984, quando foi vendido para o
Torino, da Itália. Era a primeira grande leva de grandes jogadores brasileiros
vendidos para a Europa, principalmente clubes italianos – Falcão já jogava na
Roma há anos, Zico tinha sido vendido no ano anterior para a Udinese, Sócrates
foi para a Fiorentina também em 1984.
Na Itália, Junior teve uma carreira bem sucedida e estável.
Tinha já 30 anos quando estreou no Torino, e passou a atuar no meio-campo. Dois
anos depois, atuou pelo Pescara. Sempre foi elogiado e eleito um dos melhores
jogadores do campeonato.
Em 1989, o filho do craque via uma fita com seus jogos pelo
Flamengo e perguntou quando o veria jogar no Maracanã. Foi a senha para o
retorno ao Brasil. Ele voltaria ao clube carioca que o consagrou para uma nova
fase de conquistas.
Tinha, então, 35 anos – era já um veterano para os padrões
do futebol. Nessa fase ele, que já havia sido o “Capacete”, por causa do cabelo
black power dos anos 1970 e 1980, ganharia outro apelido: “Maestro”. No meio
campo, ele regeu os jovens da equipe nas novas conquistas, o Campeonato Carioca
de 1981, a Copa do Brasil de 1990 e, principalmente, o Campeonato Brasileiro de
1992: o quinto do clube e seu quarto pessoal.
Essa foi uma conquista especial. Aos 38 anos, o Maestro foi
decisivo nos dois jogos da final, contra o Botafogo. Marcou gols nas duas
partidas (vitória de 3 a 0 e empate em 2 a 2). Num gol de falta, sua vibração
foi tanta que consagrou mais um apelido que já vinha recebendo: o
“Vovô-garoto”.
Foi um fecho de ouro. Junior encerraria sua carreira como
jogador no ano seguinte, com 104 gols na carreira. Era um defensor que não raro
estava presente no ataque.
Bem, encerraria a carreira como jogador nos gramados, bem
entendido. Porque ela seria renovada em outro campo: a areia. Ele foi o
principal nome do esforço para alavancar o futebol de areia. Não era uma
ambiente estranho a ele: tendo ido morar no Rio ainda pequeno, jogar bola na
praia foi um passatempo comum para o pequeno Junior.
Com o apoio do velho companheiro Zico, formou a seleção
brasileira de futebol de areia e participou de torneio internacionais: foi
campeão mundial em 1995, 1996, 1997, 1998 e 1999. Hoje, o futebol de areia é
gerenciado pela Fifa, com copas do mundo oficiais.
Sem a bola no pé, Junior foi treinador do Flamengo em duas
breves ocasiões: 54 jogos entre 1993 e 1994 e mais 23 em 1997. Sua nova
carreira é mesmo a de comentarista. Começou na TV paga em 1998 e depois passou
para a Globo, onde comenta sobretudo jogos de equipes cariocas e nas Copas de
Mundo de 1998 para cá. Assim, a torcida do Flamengo e os admiradores do futebol
arte nunca deixaram de ter contato com o Maestro.