O Jovem Veterano | Alain Moszkowicz
06/02/2020 às 07:55 / Fonte MB / Entrevista Márcia Barreiros / Por Renato Félix
Com 40 anos
de experiência como decorador, Alain Moszkowicz acaba de se formar em
Arquitetura
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Com 40 anos de experiência em decoração, Alain Moszkowicz
agora é também um jovem arquiteto. Ele recentemente concluiu o curso de
Arquitetura e agora assume também este lado no mercado que ele conhece tão
intimamente. “Eu sempre pensei em ser arquiteto", conta ele. "Mas com
a roda da vida de trabalho, nem sempre você tem a disponibilidade de tempo pra
segurar um faculdade. Mas eu sempre pensei: ‘No dia em que abrir uma faculdade
de arquitetura à noite, eu vou fazer”.
E cumpriu. Quando descobriu que havia um curso de
arquitetura no período noturno em João Pessoa, se inscreveu no vestibular, que
já era na mesma semana. Passou e cursou. Mas acabou estudando mesmo de manhã,
começando a trabalhar mais tarde no escritório e abrindo mão do almoço pelos
estudos.
Aos 60 anos, Moszkowicz, de mãe francesa e pai polaco, é o novo
jovem arquiteto no mercado. “Tô muito feliz agora", revela. "Ansioso
pelas obras e pelas placas para realmente me mostrar e dizer ‘eu posso, eu
sei’”.
Porém, esta não é sua primeira passagem por uma faculdade.
Alain é formado em Medicina, o que pode ser surpreendente para alguém tão
identificado com o mundo da decoração. A mudança de rumo começou a surgir ainda
no curso. "Foi a partir do quarto ano de Medicina, por causa de uma dor de
dente”, conta.
Para resolver o problema da dor, Alain foi a um consultório.
E detestou o lugar. “O consultório era horrível, fiquei extremamente
constrangido”, lembra. Não deixou de dizer o que achava ao dentista que o
atendeu, e que tinha herdado do pai o lugar. Suas críticas e sugestões
agradaram e renderam um convite para decorar o novo consultório do odontólogo.
E Alain, sem qualquer experiência no assunto, aceitou!
“Não sabia nada, mas gosto de um desafio. Saí de lá super
feliz, comprei papel milimetrado, esquadro, lapiseira, uma trena... E lá fui no
dia seguinte pra medir a sala toda", recorda. "E fui com um mestre
dele que me fez a seguinte pergunta: ‘Qual o pé-direito que o senhor vai querer
na sala?’”.
Naquele momento, Moszkowicz não tinha a menor ideia do que se
tratava. Mas tratou de aprender. Enquanto estagiava como médico em uma
faculdade, fez amizade com professores de Arquitetura. “Eu chamava meus amigos
e eles me davam aula particular de planta baixa, perspectiva...”, lembra.
O interesse pelo mundo da arquitetura só aumentou. Depois de
formado, ele passou dez meses em Recife — trabalhando em uma loja de decoração.
Veio para João Pessoa convidado para gerenciar uma loja do ramo. O passo
seguinte foi abrir o próprio escritório.
“Eu fazia muita coisa pra muita gente", conta, sobre
aqueles dias iniciais. "O mercado não era tão inchado, com tanto bons
profissionais quanto hoje. A época estava muito mais para arquitetura pura do
que para ambientação”.
O escritório passou a oferecer, em parceria, projetos tanto
de interiores quanto de arquitetura. Ele se aliou a ex-estagiários que iam se
formando, como Roberta Xavier e Carmen Melo. E não ficava limitado à área de
interiores.
“Eu posso dizer que realmente participava dos projetos de
arquitetura", conta. "Porque me agradava e eu me sentia capaz de
criar situações para que pudessem ser absorvidas nos projetos”.
Com 40 anos de experiência no mercado, de repente, no curso,
ele se viu no meio de uma garotada. E foi uma convivência difícil. “O pessoal
novo tem uma visão muito rígida das pessoas mais velhas. Se pudessem, teriam me
descartado rapidamente”, confessa. “Mas, mais do que tudo, você tem que querer
alcançar o seu sonho. E que as pessoas não atrapalhem seu percurso”.
Ele também não se furtou a dizer o que pensava em sala de
aula. "Eu sou uma pessoa muito 'chatinha'", diz. "Falo o que
devo falar e às vezes de uma forma muito direta. Embora eu seja uma pessoa educada
e gentil, quando vejo um devaneio digo que não está certo. Mas geralmente gosto
de fazer críticas construtivas. Não gosto de colocar nenhum profissional de
nenhuma área pra baixo. Gosto de colocar para cima, para caminharmos juntos".
O jovem arquiteto já tem muito o que ensinar, por sua
experiência na área. "É preciso saber que você é um veículo",
aconselha. "Que seu cliente é a peça mais importante e que as aspirações
dele são sempre de extrema relevância. E para cada peça indicada tem sempre um
substitutivo".
Agora, seu nome também estará em projeto de arquitetura. Ele
até brinca com a quantidade de vezes em que seu sobrenome é escrito de maneira
errada. "Errado ou certo, todo mundo sabe que sou eu", afirma. "Então
não tem problema".